quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Projeto de pesquisa para o doutorado: Os dois primeiros séculos de interações cristão-muçulmanas na História do Patriarcado Copta de Alexandria de Severo de Hermópolis



Fazer o Mestrado em História significou muitas coisas para mim, mas não uma experiência pessoal extraordinariamente positiva. Uma parte considerável disso se deveu ao fato de eu ter investido demasiado tempo e recursos pessoais em um tema que, como estava claro para todo mundo, e em alguma medida também para mim, não era exatamente a "minha praia".

Terminado o compromisso de pesquisa do qual a confecção do mestrado fazia parte, portanto, resolvi redirecionar meus esforços como historiador para algo que me desse não apenas possibilidade de inserção profissional, mas, antes disso, satisfação pessoal e um sentido de preenchimento vocacional. Durante muitos meses eu li, conversei com pessoas, hesitei, rezei e virei noites em claro pensando a respeito. Em algum momento do começo de maio, decidi que realmente iria dedicar meus próximos anos ao trabalho com história das religiões, com ênfase na história do relacionamento entre cristianismo e islamismo. Nos primeiros dias de agosto, já sabia que não trabalharia com nenhuma experiência cristã que me fosse particularmente próxima, católica ou reformada. No fim de agosto, em uma epifania, encontrei por acaso uma documentação, disponível a um clique, que me selou o destino. Desde então passei a ler e a esboçar alguns textos sobre os primeiros séculos das interações entre a Igreja Copta e o Islã.

Com um rascunho de projeto de pesquisa de tamanho considerável, procurei por interlocutores que o lessem e ajudassem no meu direcionamento... Cheguei enfim até a sala do Prof. Dr. Edgard Leite, que me acolheu amistosamente, com muito entusiasmo e boas palavras, olhando com bons olhos a possibilidade de vir a ser meu futuro orientador. Seguindo suas indicações e as de alguns outros conhecidos muito queridos - entre os quais destaco o Prof. Dr. Ricardo Mário Gonçalves, de comentários muito argutos, e o Prof. Me. Diogo de Souza Nunes, amigo muito querido - conclui a redação do projeto e me inscrevi no processo seletivo para o Doutorado em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGH/UERJ).

As sondagens preliminares que realizei no processo de formulação desse projeto provaram-me que havia, no máximo, muitíssimo pouco produzido a respeito do cristianismo copta na academia brasileira. Quando comecei a esboçar minha questão historiográfica, imaginava ingressar em uma província do saber fechada de modo quase hermético, na qual não poderia ter maiores sobressaltos... De fato, então eu não imaginava realmente a sério que ingressaria no Doutorado, ainda mais com um tema desses, que muitas pessoas bem intencionadas me advertiam ser "especialmente desinteressante no nosso contexto"... Mas ingressei. Não apenas passei no processo seletivo, mas nele fiquei muito bem posicionado. Também não imaginava, nem em meus sonhos mais exóticos, que fosse haver algum interesse nesse assunto para fora do quase estrito círculo dos especialistas... Mas a história, para o bem e para o mal, sempre supera as previsões e as contingências dos historiadores, e assisto agora, estupefato, com uma sensação ainda ambígua, o tema que escolhi - ou que me escolheu - tornar-se, mesmo na mídia de massa, vivo e ardente diante de meus olhos...

Como muitos foram os colegas, alunos e ex-alunos que pediram para ler o meu projeto, agora, devidamente matriculado no doutorado, tenho alegria em compartilhá-lo também aqui. Aguardo ansioso observações, sugestões e críticas, e ficaria muito feliz se sua publicação fosse ensejo para o debate e para o surgimento de outros pesquisas a respeito do mesmo assunto.

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Título: Os dois primeiros séculos de interações cristão-muçulmanas na História do Patriarcado Copta de Alexandria de Severo de Hermópolis

Formato: online (disponível em https://tinyurl.com/gwb7x8d)

Investimento: acesso aberto

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Minicurso no Centro Loyola de Fé e Cultura: Jesus de Nazaré no Islã

Jesus, aureolado como um profeta, ornado com uma barba de sábio e acompanhado por seus discípulos, é abordado por dois homens que pedem o perdão de seus pecados. Miniatura constante da fl. 136b de cópia do Kullīyāt-i Saʿdī (1292 a.D. / 691 a.H.) de Musharrif al-Dīn ibn Muṣliḥ Saʿdī Shīrāzī, concluída em Shiraz, Pérsia, no ano de 1527 a.D. / 934 a.H. (Extraída de http://tinyurl.com/nazf5mp. Imagem editada).

Nos dias 12, 19 e 26 de março próximo, três quintas-feiras, das 19 às 21h, eu terei a honra e a alegria de oferecer por iniciativa do Centro Loyola de Fé e Cultura da PUC-Rio um curso a respeito da figura de Jesus de Nazaré no Islã.

Nesta ocasião, pretendo fazer uma exposição sintética de como Jesus é apresentado na religião islâmica, usando como referência a leitura do Corão e de compilações de ditos e feitos de Jesus recolhidos na literatura ascética e devocional muçulmana. Também pretendo discutir um pouco a respeito das possíveis fontes dessa imagem, e qual foi o seu papel no processo de interação entre cristãos e muçulmanos naquele período inicial, fundador, que se estendeu desde o surgimento do Islã até o fim do primeiro milênio depois de Cristo. No horizonte disso tudo, repousa o desejo de procurar compreender um pouco mais o papel que Jesus de Nazaré tem simultaneamente como traço de distinção e de aproximação das tradições cristã e islâmica.

As aulas serão voltadas especialmente para os estudantes de história e teologia, mas também terei grande alegria em acolher todos os interessados em ouvir e conversar a respeito deste tema.

Peço que os eventuais interessados se inscrevam o quanto antes, de modo que possamos formar uma turma com um quórum mínimo que garanta a efetiva realização do curso... Solicito também a todos os amigos, colegas e conhecidos que ajudem a divulgar a proposta do curso em suas redes de contatos, visando alcançar especialmente os potenciais interessados no tema.

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Título: Jesus de Nazaré no Islã

Formato: minicurso (3 aulas, totalizando 6 horas/aula)

Ementa: Apresentação introdutória da figura de Jesus de Nazaré no Corão e na tradição islâmica, com ênfase especial para seu papel no processo de interação entre cristãos e muçulmanos no último terço do primeiro milênio da era cristã.

Objetivo: Jesus de Nazaré é um personagem eminente no Corão, na espiritualidade, na escatologia e no folclore islâmicos, que o consideram como profeta, atribuindo-lhe os títulos de Messias e Palavra de Deus, mas negando que seja Deus ou Filho de Deus, ou que tenha sofrido a morte na cruz. As principais fontes de informação a seu respeito no interior da tradição islâmica são as menções que lhe são feitas no Corão e as parábolas, ditos e feitos que se lhe atribuem em várias obras de exegese, jurisprudência e história produzidas em contextos muçulmanos. Este curso objetiva fazer uma apresentação sinóptica de como Jesus é figurado no Islã, perguntando-se sobre as fontes desta imagem e sobre o seu papel no processo inicial de interação entre cristãos e muçulmanos.

Programa:

1. A cristologia corânica
2. Estórias, ditos e parábolas islâmicas sobre Jesus
3. Possíveis fontes cristãs do Jesus muçulmano

Quando: dias 12, 19 e 26 de março (quintas-feiras), das 19 às 21h

Onde: Centro Cultural João XXIII, Rua Bambina, n. 115, Botafogo - Rio de Janeiro / RJ (mapinha: http://tinyurl.com/k2pqmh6. Ps. O local fica bem próximo à estação do metrô)

Investimento: R$ 110,00 (para se inscrever é necessário mandar um e-mail para scursosloyola@puc-rio.br, informando nome, RG, telefone e o curso do qual deseja participar, e solicitando o boleto bancário para pagamento da taxa. Mais informações podem ser obtidas entrando em contato nos telefones [21] 3527-2011 ou [21] 99479-1442, ou por mensagem inbox para o https://www.facebook.com/centroloyolapucrio)


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Atualização: o minicurso sobre Jesus de Nazaré no Islã começou com uma série de probleminhas, evidentemente externos ao Centro Loyola, que é um dos melhores lugares de se trabalhar com ensino pelo qual eu já tive o grande prazer de passar, mas tudo felizmente correu muito bem nos três dias de sua realização. Pude contar com uma turma formada por pessoas de origens, formações e interesses bastante variados, que transformaram as aulas em verdadeiros laboratórios de ensino-aprendizagem. Sensação muito boa de ter conseguido executar isso a bom termo! No mais, segue o link para o programa e as referências bibliográficas do minicurso, http://migre.me/pdl7J, assim como uma foto do grupo que resistiu comigo no Centro Cultural João XXIII até às 20h de quinta-feira passada.