domingo, 25 de janeiro de 2015

Artigo publicado na Revista História Agora: Dom Fernando Lugo Méndez, SVD, ex-bispo emérito de São Pedro e presidente da República do Paraguai

Fernando Lugo enquanto presidente do Paraguai. (Extraída de http://migre.me/okGP8)

É impressionante como alguns textos envelhecem rápido - e nem sempre bem. No primeiro semestre de 2008, eu era um aluno da graduação em História na PUC-Rio, tateando em busca de um tema de pesquisa para me apaixonar. Já tinha inclinações fortes pelo campo da história das religiões, mas não havia me decidido a respeito do quê exatamente iria explorar dentro dele. Um então colega de turma disse-me que eu deveria escrever sobre Lugo Méndez, um bispo católico que havia sido eleito há muito pouco tempo como Presidente do Paraguai, à revelia das normas do Vaticano e da Constituição de seu país. Aceitei a proposta e elaborei um trabalho de disciplina a respeito do tema. A professora responsável pela cadeira na qual o apresentei disse-me que eu deveria procurar publicá-lo. Aceitei a provocação e procurei uma maneira de fazê-lo.

O resultado foi um estranhíssimo exercício de história do tempo presente, vazado em um enquadramento teórico muito conservador, na qual se misturaram como arcabouço elementos da antropologia de Victor Turner e da teoria das relações entre experiência e literatura de Jorge Luis Borges. A ideia era dimensionar a militância política que levou Lugo à presidência a partir de sua base religiosa, descrevendo-a contra o plano de fundo das seculares relações entre clero católico e política institucional na América Latina, mas consegui realizar apenas uma descrição muito mais maniqueísta, na qual se confrontavam dois modelos de cristianismo: um cristianismo dos pobres, quase revolucionário, que eu conhecia de ouvir dizer da minha formação católica em uma região que, a seu tempo, absorveu alguns elementos da reflexão da Teologia da Libertação; e um cristianismo da preservação do status quo, mais político do que politizado, fortemente institucional, que era o avesso semi-oculto, mas onipresente, de toda a minha experiência do catolicismo. Da preocupação com esse segundo modelo de Igreja, segui até Eusébio de Cesareia, objeto de minha monografia de fim de graduação... Mas então já se trata de um outro estágio, descontínuo com o anterior, de minhas preocupações acadêmicas.

O artigo cujo link segue adiante, além do mais, foi superado pela própria história em curso. Em 2008 conclui este paper indicando que na figura do bispo e presidente Lugo poderia se gestar uma nova e construtiva síntese entre a atuação política e o imaginário católico latino-americano. Não foi o que aconteceu. Ou aconteceu de uma maneira muito diversa do quê eu poderia supor, com desdobramentos que me eram de todo insuspeitos. Em 2009 começaram a surgir relatos a respeito dos filhos de Lugo, concebidos enquanto ainda era sacerdote católico em exercício. Sua autoridade política, de fundo religioso - conforme argumentei em meu texto - foi ostensivamente minada pela imprensa paraguaia e internacional através da crescente ênfase nestas provas de sua infidelidade aos seus votos religiosos. A partir do momento em que admitiu uma série de relacionamentos maritais, as opiniões da base popular que havia possibilitado a eleição de Lugo à presidência começaram a se dividir mais e mais. Em junho de 2012, ele foi destituído de seu cargo pelo senado através de uma votação rápida e decisiva, na qual foi considerado culpado por "mau desempenho" enquanto presidente do Paraguai. Considerando-se vítima de um golpe, não de um impeachment, Lugo chegou a constituir um governo paralelo, que batizou de Gabinete da Restauração da Democracia, com sede em sua própria casa, em Lambaré, localidade nos arredores de Assunção. Em outro plano, políticos aliados do ex-presidente trabalharam para reverter o quatro político e garantir que Lugo reassumisse o poder executivo e concluísse o mandato presidencial. Nenhuma destas iniciativas teve sucesso: o Gabinete de Lugo foi dissolvido e o assunto de sua retomada do mandato foi dado oficialmente por encerrado. Mesmo se recusando a reconhecer a autoridade do governo constituído, Lugo foi eleito senador durante as eleições gerais de 2013, ocupando agora uma cadeira no senado e atuando pelas vias políticas costumeiras.

Em 2009, quando dos relatos de paternidade, e em 2013, quando de sua deposição, eu pensei mais de uma vez em retomar o paper publicado em 2008 e adicionar-lhe um longo post scriptum, ou talvez refundi-lo inteiramente... Decidi esperar uma e outra vez. Seria necessário escrever um novo artigo a partir dos restos do anterior. Não havendo emenda possível, o texto dado a público permanece testemunho de meu interesse e entusiasmo, de meu tatear pelo tema ao calor do momento em que ele emergia na imprensa e na pena dos analistas políticos. Espero retomar o assunto para uma reavaliação, mas apenas daqui a, talvez, uma década ou uma década e meia. O rico campo dos estudos da história do tempo presente, compreendidos em sentido estrito, é um lugar onde, agora, eu não me sinto mais exatamente confortável para semear minhas ideias.

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Título: Dom Fernando Lugo Méndez, SVD, ex-bispo emérito de São Pedro e presidente da República do Paraguai

Resumo: Primeiro bispo católico a chegar ao cargo máximo do poder executivo em uma democracia, o que criou problemas jurídicos inéditos quanto à sua situação canônica, Fernando Lugo Méndez foi eleito Presidente do Paraguai por uma ampla coalizão de partidos como alternativa às forças políticas tradicionais até então aí hegemônicas, o que representa um importante marco na consolidação do regime democrático deste país. Levado à militância partidária por motivações de base religiosa, o ex-sacerdote verbita, excomungado pelo Vaticano por seu envolvimento com a política institucional, se insere em uma tradição mais ampla de religiosos católicos que foram e são importantes atores sociais e centros simbólicos de ativismo no cenário cultural latino-americano e pode ser adequadamente dimensionado sobre o pano de fundo de um duradouro e multifacetado debate sobre a relação entre catolicismo e política no continente. 

Formato: online (disponível em http://migre.me/okGdI)

Investimento: acesso aberto

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Resenha publicada na Revista Sæculum: Cinzas que queimam. Resenha de: Jenkins, Philip. Guerra Santas... (2013)


Foi publicada uma resenha de minha autoria na edição de janeiro a junho de 2014 da Sæculum, revista acadêmica do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba (DH/UFPB). Trata-se de uma apresentação crítica do livro Guerra Santas, de Philip Jenkins, traduzido para o português por Carlos Szlak e publicado no Rio de Janeiro em 2013 pela LeYa Brasil. (Parte do livro está disponível - com uma formatação bastante estranha, mas disponível em http://migre.me/ohSEt). Infelizmente a editoração deste número da Sæculum, que veio à público em dezembro de 2014, deixou escapar alguns errinhos na revisão do texto (e criou alguns outros que não constavam na versão original que lhes enviei), de modo que, na versão da resenha que disponibilizei no meu perfil no Academia.edu (link adiante) eu acrescentei uma pequena errata depois da página final.

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Título: Cinzas que queimam

Volume resenhado: Jenkins, Philip. Guerras santas: como quatro patriarcas, três rainhas e dois imperadores decidiram em que os cristãos acreditariam pelos próximos mil e quinhentos anos. Tradução de Carlos Szlak. Rio de Janeiro: LeYa, 2013.

Formato: online (disponível - versão com a errata - em http://migre.me/ohSOw)

Investimento: acesso aberto

domingo, 18 de janeiro de 2015

Curso de Férias na Igreja do Nazareno em Vila Emil: Cristianismos Orientais: uma introdução à história das Antigas Igrejas Apostólicas (séculos I ao VII)

Prelados das Igrejas Síria Ortodoxa, Copta e Armênia abençoam a assembleia reunida ao fim da liturgia.
Igreja Ortodoxa Armênia, Nova Jersey, EUA, 2012. (Extraída de http://migre.me/obA5a).

O recesso que fiz da semana antes do Natal passado ao começo desta que acabou há pouco foi marcado por dificuldades de comunicação maiores do que imaginei. Primeiro, estive na casa dos meus pais, em uma cidade onde o sinal da internet é péssimo. Depois fiquei um certo período sem computador, cuidando da rotina online apenas pelo celular. E eu não sei atualizar um blog por aquele tipo de aparelho...

Daí eu não ter feito a adequada divulgação por aqui da nova edição do curso sobre história dos cristianismos orientais que Lucas Paiva e eu estamos oferecendo nesta segunda quinzena de janeiro em Mesquita, na Igreja do Nazareno de Vila Emil. Trata-se de uma reedição algo melhorada do curso de férias que oferecemos nos meses de janeiro e julho de 2015 na Faculdade Evangélica das Assembleias de Deus (FAECAD). Por convite do Pr. Alisson Magalhães, responsável pela área de educação dessa comunidade, retiramos o curso do ambiente acadêmico e o estamos oferecendo aos interessados em geral.

O primeiro dia deste curso, sábado passado, dia 17 de janeiro, foi extraordinário. A aula ficou a cargo do Prof. Lucas, que tratou da virada constantiniana, dos primeiros grandes Concílios Ecumênicos e da formação e particularidades da teologia e da liturgia das Igrejas Bizantinas. Fui positivamente surpreendido ao lá encontrar uma turma bem disposta e perspicaz, que transformou a aula em um intenso debate e propôs uma série de questões bastante pertinentes para discussão.

No dia 31 de janeiro, também um sábado, a aula estará a meu critério. Na parte da manhã, tratarei das antigas comunidades apostólicas da Síria Oriental, da Pérsia, da Armênia e da Índia. A parte da tarde será inteiramente dedicada a uma exposição sobres as Igrejas Etíope e Copta, que são o tema de minha pesquisa de doutorado. Eventuais interessados que estejam por perto no dia e queiram aparecer, sintam-se à vontade para se chegar por lá para conversar conosco sobre estes temas. Vocês serão muito bem-vindos.

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Título: Cristianismos Orientais: uma introdução à história das Antigas Igrejas Apostólicas (séculos I ao VII)

Formato: curso de férias (2 aulas em período integral, totalizando 12 horas/aula)

Ementa: Abordagem sinóptica a respeito das especificidades históricas e das principais questões teológicas que marcaram as trajetórias das comunidades cristãs da Europa Oriental, da Ásia e da África desde a pregação dos apóstolos até às vésperas do surgimento do Islã. Para fazê-lo de forma adequada, dar-se-á especial atenção às questões da diversidade dessas igrejas do período tardo-antigo e medieval e à historicidade dos debates realizados neste âmbito sobre a natureza divina. Assim sendo, de modo mais geral, também objetiva-se mostrar qual seu valor e importância para o cristianismo mundial de hoje, e o que podemos aprender com essas experiências cristãs diversas da ocidental.

Quando: 17/01 e 31/01 (sábados), das 9 às 17h 

Onde: Igreja do Nazareno em Vila Emil, Rua Rakel Rechuem, n. 38, Vila Emil - Mesquita / RJ. (Referência: próximo ao Centro Educacional Rakel Rechuem. Mapinha: http://migre.me/obzKf)

Investimento: R$ 35,00 por aula (para se inscrever é necessário mandar um e-mail para pralisson.magalhaes@hotmail.com. Novas inscrições também podem ser feitas no local, 15min antes do início da exposição)


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